quinta-feira, 22 de março de 2007

O buraco da contra-programação.


A contra-programação é um conceito tramado. Isso de um canal definir a sua grelha, diariamente, em função da concorrência mina, por completo, a possibilidade de uma pessoa ter um serão televisivo descansado.

A contra-programação é, acima de tudo, contra o telespectador. Contra o seu direito alienável de se sentar no sofá, na certeza de poder assistir à programação que viu no jornal da manhã. É contra o respeito pelo telespectador e contraria as regras mais básicas da fidelização.

Mas pior que a contra-programação é a não-programação. A ideia de um canal decidir, sem aviso, suspender ou substituir um programa é revelador da TV que temos e, essencialmente, do público que temos. E ainda de quão medíocre é a relação entre os dois.

Os canais nivelam a sua programação por baixo, não toda, mas aquela que lhes interessa e lhes dá mais audiência. Só aqui, não se pode dizer nada de abonatório em relação ao público. E depois distribuem a programação pelos dois únicos períodos, para os quais fazem ainda algum esforço para parecerem coerentes: a manhã das donas de casa e os serões da família. Findos os dramas matutinos e as novelas da noite, a programação entra em loop. Séries, ainda que boas, mas com episódios requentados, filmes comprados a preço de saldo e uma ocasional estreia para enganar a fome.

Há vinte anos a televisão tinha uma grelha mais arrumadinha, feita de forma horizontal, o que nos possibilitava saber o que se passava na programação consoante o dia da semana. Hoje as grelhas são feitas verticalmente e cada dia é uma surpresa, sempre dependente da programação da concorrência, do futebol ou da procissão das velas. Felizmente, o Papa raramente vem a Portugal.

Mas agora, a nova lei da televisão promete remendar este desnorte do telespectador. A proposta que está em cima da mesa obriga os vários canais a anunciar a sua programação com 48 horas de antecedência. Não sei se é bom ou mau... mas sei que é capaz de trazer um bocadinho mais de criatividade e coerência às grelhas. O que eu sei também é que não é bom sinal ter que se regular aquilo que, do ponto de vista ético e de gestão, já faz todo o sentido.

1 comentário:

Anónimo disse...

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